CLIC – Centro Lúdico de Interação e Cultura
Oficina de Filosofia 'Pensando Pensamentos'
Grupo I – Turma da Salamandra
Educadora: Flávia
Data: 14/05/2007
Relatório
O tema abordado na oficina de filosofia referiu-se, novamente, aos sentimentos. Tal assunto foi proposto pela Luciana na última reunião sobre o pensar pensamentos. Sendo assim, eu disse à turma que outro dia o Igor havia escutado uma palavra a qual ele não sabia o significado e precisava muito que alguém lhe contasse o que aquela palavra representava na verdade. Então, o Igor havia pedido-me para que o levasse à turma da Salamandra, pois ele achava que as crianças poderiam ajudá-lo a entender o que realmente era Sentimento. Após introduzir essa questão à turma pedi a todos que explicasse ao nosso amigo sobre a tal palavra.
Segundo o Davi, sentimento é “sentir suor”, já para o Luca é “sentir que tá frio e sentir que tá calor”. A partir de seu argumento a meninada começou a falar de frio e calor e, ainda, o Luca nos disse que “a gente morre na neve” e que “vou ficar só no Brasil por que aqui não tem neve e eu não vou ficar congelado”. A última fala registrada sobre esse assunto foi do Daniel, ele nos perguntou e logo respondeu: “sabe onde tem neve? Nos Estados Unidos”.
Ao perguntar ao Zeca, que encontrava-se calado, o que era sentimento, ele falou o seguinte: Sentimento? È sentindo dor, raiva, senti se tá triste”, e o Davi completou: alegria... senti quando vai morre...”
Para o Lucas Guerra, sentimento é “sentir amor”. Quando é que a gente sente amor, Lucas? “No coração”, respondeu ele. Por que o coração? “Porque o coração é o amor”. O Luca, relatou que a gente sente amor “quando sente falta da namorada”. Para o Ravi, “sentir é quando a gente está doente, quebra a perna, gosta muito de uma pessoa e ela não está no mesmo lugar – a gente sente saudade. O que é saudade, Ravi? “Saudade é quando a gente não gosta da pessoa e sente falta dela”. Porém, para o Davi, “saudade é quando uma pessoa, a gente gosta muito dela, a gente sente uma dor no coração”. Logo após a fala do Davi, o Luca acrescentou o seguinte: “eu senti saudade e meu coração não doeu”. Já o Daniel acredita que “a gente sente saudade quando a pessoa viaja”, e o Gabriel: “quando uma pessoa tá muito longe e a gente sente saudade”. Em relação ao que a turma estava comentando, a Isabel disse o seguinte: eu já senti falta do meu pai, aí minha mãe despediu de mim e eu despedi dela. Aí eu e minha irmã ficou em casa sozinha”.
Após falarem sobre saudade as crianças comentaram sobre alegria, que para o Lucas Silva: “alegria é que tá feliz”, e o Dani disse que é “quando um amigo tá com a gente”. Já o Ravi falou que a gente senti alegria quando “vai no parque, no circo...” A Isabel juntou tudo e disse o seguinte: “quando a gente tá feliz e quando fica perto de uma pessoa que a gente gosta”. A partir desse assunto surgiu o termo paixão, que segundo a Isabel “é quando a gente tá um pouquinho triste e feliz, sentindo falta da nossa mãe”.
A partir da construção das crianças sobre o que é sentimento foi possível evidenciar uma certa mistura sobre o termo propriamente dito com a questão das sensações – aquilo que é sentido via sensorial. Acredito que ambos os termos se intersectam no pensar das crianças de modo que cada uma faz sua própria interpretação de acordo com sua vivência. Muitas vezes, essa interpretação é tida como única e verdadeira, o que causa uma não aceitação em relação ao que o outro compreende sobre o assunto abordado. Uma das crianças chegou a tampar os ouvidos pois achava que aquilo que ela pensava e expunha no momento era a única verdade, ou seja, ela não quis escutar a opinião de uma dos amigos, apenas a dela tinha de prevalecer.
O filósofo
Mania de Explicação - Adriana Falcão, ilustrações Mariana Massarani
Aos pais das crianças dos grupos I e II
Amigos pais,
Pelo terceiro ano consecutivo, daremos continuidade ao projeto “Pensando pensamentos”. Este projeto consiste na realização de oficinas de filosofia com as crianças do grupo I e II, conduzidas pelos educadores e supervisionadas por mim, Adriana e Letícia. As oficinas têm como objetivo realizar atividades lúdicas que respeitem as especificidades cognitivas e discursivas das crianças e que promovam experiências de pensamento filosófico.
As crianças gostam de pensar e queremos que este exercício se torne um hábito sempre mais prazeroso e fértil. Com a oficina pretendemos disponibilizar mais um espaço para estimular nossos pequenos filósofos a investigarem, refletirem e dialogarem sobre suas experiências cotidianas, valorizando uma disponibilidade investigativa que nós adultos muitas vezes perdemos, já que, freqüentemente, acomodamos nosso pensamento à forma como as coisas estão estabelecidas. Principalmente hoje, quando nossa cultura valoriza e estimula posturas mais práticas e menos especulativas: eficácia, busca de resultados, competência, refém de um imediatismo e um pragmatismo que tendem a ser muito empobrecedores do ponto de vista do entendimento das coisas, da compreensão de nossas ações e escolha de nossos projetos.
A partir da mediação dos educadores, a oficina de filosofia pretende ser um momento em que as crianças possam ´pensar filosoficamente´, de forma cooperativa, dialógica e democrática, e não aprender ´lições de filosofia’ ou de ‘história da filosofia’. Queremos ‘filosofar com as crianças’, pensar juntamente com elas, refletido sobre alguns problemas e conceitos que precisam continuamente ser questionados, analisados e re-significados. O ganho pode ser sutil, mas é rico em implicações: a capacidade de questionar, de não aceitar respostas fáceis, de pensar de forma multifacetada, de problematizar, de lidar com as diferenças, de aceitar o outro, pensar e agir de forma refletida, criativa, autônoma, livre, flexível, posturas estas que, acreditamos, refletirão positivamente ao longo de toda a educação.
Espero que vocês compartilhem do nosso entusiasmo!
Abraços,
Luciana Almeida
